Precisamos de todas elas

O Senhor Jesus Cristo ensinou multidões, treinou pequenos grupos, conversou com indivíduos. Ele também se retirou do meio das pessoas para estar com seu Pai.

Seus seguidores agem de forma semelhante. Encontram tempo para estarem sozinhos com seu Deus. Brilham a sua luz no meio de um mundo nas trevas. Estabelecem a prioridade de se reunirem com sua família em Cristo.

É instrutivo que o único tempo estabelecido para uma dessas atividades é o encontro congregacional no primeiro dia da semana. O evangelismo é uma atividade constante. A edificação pode acontecer a qualquer hora. A oração ocorre sem cessar. A meditação da palavra de Deus é feita dia e noite. Mas há algo especial na reunião em torno da mesa do Senhor aos domingos.

Todas estas atividades, de fato, são necessárias. Nenhuma pode substituir por outra. O Todo-poderoso cuida dos seus e supre toda necessidade para uma vida piedosa e para o serviço que lhe agrada.

Portanto, não negligenciamos suas dádivas que dão força e suas fontes do amor. Precisamos de todas elas. E por todas elas somos gratos.

Nova obra

Todo discípulo que inicia uma nova obra no Senhor pode sentir um pouco como Lucas, escritor do evangelho que traz o seu nome: "Muitas pessoas têm se esforçado para" fazer a obra de Deus de forma eficaz e usar suas oportunidades para que ocorra o crescimento que o Senhor quer. Que muitos já fizeram poderia levar, em primeira instância, a desistir logo da ideia. Já vem o pensamento: "Quem sou eu ...?"

Mas Lucas não se deixou intimidar pelos muitos que já se esforçaram. Ele sentiu que havia muito campo ainda para trabalho na área literária. E Deus usou seus esforços, quando não usou os outros desta forma, carimbando-os com a inspiração do Espírito.

Lucas não fez nada original, por assim dizer. Outros já o fizeram. Até um evangelho inspirado já tinha sido escrito, provavelmente, talvez duas. Mas Lucas imaginou existir ainda um espaço a ser ocupado e utilizado para o reino de Deus.

Ele não era nem testemunha das coisas que aconteceram. Não tinha por perto, evidentemente, nem um apóstolo que era testemunha ocular, como tinha Marcos, como afirma a tradição, para anotar as memórias de Simão Pedro. Lucas tinha de pesquisar, precisou trabalhar mais ainda, um grego como peixe fora das águas judaicas, atravessando as culturas para fazer sentido da Expressão Divina dentro do contexto israelita.

Contamos as nossas desvantagens pelas dezenas. Inúmeras são as razões por que não devemos, não podemos, fazer algo novo, inédito — nada que foge da verdade de Deus, diga-se de passagem, mas uma nova manifestação ministerial da antiga dedicação espiritual dos primeiros cristãos.

Os segredos espirituais adquiriram a natureza de segredo, não porque são difíceis de descobrir, ou porque Deus privou a grande maioria da humanidade dos mais profundos conhecimentos, mas porque a ambição pessoal e o interesse egoísta os escondem dos olhos. O apóstolo Paulo aprendeu o segredo do contentamento, Fp 4.12. Mas o segredo está óbvio perante o mundo, Deus o revelou a todos, e não somente o revela, mas o estende livre e gratuitamente a qualquer um que quer recebê-lo.

Outros segredos existem no âmbito espiritual da mesma forma que o contentamento, entre eles a simplicidade da obra salvadora de Deus. Este é o "mistério" agora revelado, como Paulo gostava de chamar o evangelho. Mas continua mistério para muitos. E um segmento deste mistério da redenção é o da participação humana e o total desprendimento requerido para viver o serviço de Cristo da forma como ele viveu.

Hoje este serviço virou emprego. Tornou-se um adendo ou complemento à vida que o ser humano considera realizada. É o serviço da conveniência, da sobra, do extra. Deixou de ser o serviço que toma conta da existência, o projeto maior do que qualquer indivíduo ou grupo de pessoas, ao lado do qual a vida física já não importa mais.

Eu postei no Twitter que, se eu fosse iniciar um periódico sobre o discipulado, eu o chamaria de "A Cruz Diária". O título lembra as palavras de Jesus em Lucas 9.23:

Jesus dizia a todos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me".

O Caminho exige tudo de nós, a própria vida, por amor de Cristo. E nosso Senhor nos envia no meio do mundo, não apenas para serem boas pessoas, mas para proclamar, no meio de críticas, rejeição e perseguição, a palavra salvadora. Proclamar sem parar. Não uma mensagem política ou social, mas espiritual e eterna.

Nossos pregadores e mestres, porém, estão ainda no nível de tentar fazer com que o povo apareça no domingo para uma hora de reunião.

Não é de se admirar que a igreja do Senhor está anêmica e, em alguns lugares, morta.

Por isso, há necessidade de discípulos que tomam a iniciativa, como fez Lucas ao escrever a sua história do Mestre, de iniciar novas obras que alcançarão um mundo que até agora não ouviu a Boa Nova de Jesus Cristo.

Vamos começar novamente?